Banco Santander ganha monopólio na UC, a troco não se sabe de quanto
O Diário As Beiras do passado dia 20 mostrava uma foto do Reitor Seabra Santos apertando a mão de Emílio Botín, chairman do quinto maior banco do mundo, o Santander. Ambas as mãos suficientemente impolutas para se apertarem com prazer: Botín, cujo banco subiu ao quinto lugar mundial ao lucrar com a actual crise, com as injeções de dinheiro dos contribuintes, tornou-se conhecido por ter sido acusado pelo Estado espanhol,em 2006, de ter ajudado clientes a fugir aos impostos; a fama de Seabra Santos vem do facto de ter sido o único reitor que, em democracia, chamou a polícia à universidade para bater nos estudantes, de forma a aprovar a propina máxima que, ao ser eleito, dizia recusar.
O aperto de mão entre estes dois grandes amigos do progresso social e do ensino público celebrava uma acordo entre a UC e o Grupo Santander. Em que consistia? Nada de mais simples e claro: o Banco espanhol “doava” à UC uma quantia que não é revelada, para a reconstrução da Torre da Universidade, a Cabra, e para apoiar intercâmbios entre a UC e universidades da América Latina. Em troca, a partir de Maio, todos os novos cartões de estudantes, funcionários docentes e não-docentes da UC serão cartões do Santander, em vez da Caixa Geral de Depósitos. Ou seja: as obras e os programas de intercâmbio que deviam ser geridos e garantidos pelo estado ficam na mão de um dos maiores monopólios financeiros do mundo, daqueles que gerou e ainda beneficiou com a crise económica que abala Portugal e o mundo. Em compensação, este ganha de uma vez dezenas de milhares de clientes, cujo respectivo dinheiro passará a estar nos cofres do Banco Santander, para este poder com ele especular à vontade. Ao mesmo tempo milhares ou milhões de euros de liquidez fogem do banco do estado, a Caixa. Em troca de quanto? Não sabemos, o reitor e o banqueiro preferem que fique entre eles, num “acordo de cavalheiros”.
É assim que, depois do RJIES e dos subsequentes novos Estatutos da UC terem posto o BPI na presidência do Conselho Geral da nossa universidade, mais um banco privado abocanha mais um pouco do Ensino Público. É esta a saída destes senhores para a sua crise: jogar a mão ao que é público, criar novos mercados onde especular e lucrar. E o Ensino é um dos novos mercados mais apetecíveis, a par da Saúde. Isso explica a explosão de Bancos na gestão de universidades públicas pela Europa fora, ou a disseminação de projectos como o Magalhães ou os quadros interactivos, que criam novos mercados no campo da educação. E o RJIES possibilita que o próximo passo seja a privatização de cantinas e residências, que será feita também pela mão de outros “filantropos” da alta finança. Enquanto isto as propinas sobem, as bolsas atrasam-se e a qualidade do Ensino cai...
Claro que a pré-condição para esta venda do Ensino a retalho é o sub-financiamento estatal. Só o facto de o governo não dar dinheiro suficiente ao Ensino e outros serviços públicos permite que tubarões como Emílio Botín surjam como filantropos enquanto nos roubam o que é nosso: o Ensino, a gestão da nossa universidade e, em simultâneo, delapidam o banco do estado. Ao manter o sub-finaciamento, o governo Sócrates mantém o Ensino refém da privatização. Nada que o Engenheiro e o seu acólito Mariano Gago não saibam, por algum motivo encheram os Conselhos Gerais das Universidades públicas com grandes empresas privadas e criaram as Fundações Públicas de Direito Privado. Da mesma forma que nos temos oposto ao sub-financiamento do Ensino Público, cabe-nos combater este tipo de negociatas, feitas nas costas de estudantes, em benefício de um dos grandes banqueiros do mundo. A privatização é a outra face do sub-financiamento, os estudantes e a AAC só podem por isso lutar contra ela! Fora o Santander da UC! Fora as empresas da gestão das Universidades! Mais financiamento público para o Ensino e para a Acção Social!
Manuel Afonso