Hoje, às 12h teve lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), uma manifestação de estudantes contra o novo Regulamento Geral de Avaliação (RGA). O protesto foi decidido em Reunião Geral de Alunos da FLUL e teve como principal motivo a obrigatoriedade para os alunos de presença em todas as aulas prevista no RGA. Como excepção, o regulamento prevê o caso dos trabalhadores estudantes, ficando aqui esquecido o crescente número de colegas que para conseguirem um trabalho para poderem estudar não requerem o estatuto a que deveriam ter direito (que entre outros obriga o patrão a dar dois dias por exame oral ou escrito) e que portanto não serão previstos neste regulamento. O RGA permite ainda que os estudantes que fazem voluntariado para a faculdade, ou seja, que fazem funcionar a instituição de forma grátis não precisando esta de contratar mais pessoal, sejam ilibados da obrigação de frequentar todas as aulas. Que bonzinhos estes senhores/as!
Decorrente da implementação do Processo de Bolonha, muitas instituições de ensino superior iniciaram transformações ao nível dos regimes de avaliação. Estas alterações, prendiam-se principalmente com a tão anunciada avaliação contínua. Este tipo de avaliação, bastante querida para muitos alunos e professores, foi utilizada pelos governos para facilitar a entrada de Bolonha nas instituições confundindo todos sobre os verdadeiros intentos deste processo.
Actualmente sabemos que mais não foi do que uma mentira. Num contexto de sub-financiamento, da anunciada avaliação contínua o que resultou foi uma carga de trabalho exagerada que em nada equivale ao conhecimento adquirido e que torna os alunos tarefeiros, um tratamento dos alunos como se de irresponsáveis se tratasse obrigando-os à presença nas aulas administrativamente em vez de transformá-las em espaços aprazíveis de discussão e de aprendizagem. Por outro lado, faltam professores para fazer um verdadeiro acompanhamento continuado de todos os estudantes. Isto resulta ou num atraso dos projectos de investigação que fazem parte do trabalho de muitos docentes, ou num déficit de acompanhamento dos alunos, chegando em muitos casos a proibir muitos de nós de aceder à avaliação contínua como resultado de um número de turmas insuficiente. Por fim, a ausência de meios técnicos, como computadores e laboratórios, demonstram mais uma vez a incapacidade das instituições de oferecerem um verdadeiro ensino acompanhado e contínuo.
Cada vez fica mais claro para todos que de um Processo de Bolonha que vinha trazer um ensino mais acompanhado apesar de autónomo e uma maior mobilidade entre instituições de ensino, não mais resta que um aumento do preço dos estudos para os mesmos 4/5 anos lectivos da época anterior a este processo, transições curriculares que fizeram muitos de nós ficar mais um ano no ensino superior e outros repetir conteúdos, e regimes de avaliação que ora nos excluem do tipo de avaliação que melhor se adequa à nossa vida, ora nos fazem sentir como crianças irresponsáveis que não somos.
Precisamos de facto de melhorar a pedagogia no ensino superior, mas isso terá de passar por uma maior flexibilidade das formas de aprender, tratando-nos como pessoas responsáveis e deixando ao nosso critério se queremos uma avaliação contínua ou apenas avaliação final.
Tal só será possível com mais investimento no ensino superior que garanta mais meios técnicos e infra-estruturais e mais professores!
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Acho muito bem que se obrigue a ter presença em todas as aulas. Para ensino superior é o mínimo que se pode exigir.
ResponderEliminarExistem muitas coisas que se podem e devem exigir no Ensino Superior. A frequência nas aulas não é uma delas. Os estudantes têm de ter a capacidade e responsabilidade de saber qual a melhor forma de adquirir os conhecimentos necessários à sua formação. Na universidade não se deve estimular a irresponsabilidade.
ResponderEliminarAssistir a uma aula todos sabemos que muitas vezes não é sinónimo de aquisição de conhecimentos. Da mesma forma que numa aula se pode aprender muito, também se pode passar o tempo a dormir a olhar para a janela, ou qualquer outra actividade possível. É uma hipocrisia esse tipo de regimes de avaliação que tentam administrativamente passar por cima de um problema que é bem mais profundo do que isso e que envolve pedagogia na universidade, programas curriculares, etc etc etc.
Isto sem contar claro está com os problemas acrescidos da malta que trabalha para estudar e que para arranjar trabalho não pode exigir estatuto de trabalhador-estudante.
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